Segundo o escritor alemão Goethe, todos os fatos marcantes da vida provém de traumas: desde o sofrido nascimento de um ser humano, passando pelas fases de aprendizado para que consigamos a duras custas entender o significado de sobrevivência e ainda assim também esperar o final da existência e torna-la menos sofríveis. Mas e quando um determinado trauma é para sempre? Violência, humilhação, eternos desconfortos… Existe alguma forma de exterminar em definitivo essa dor permanente?
Vivendo nos Estados Unidos, Maja (Noomi Rapace) tem sua família formada. O marido Lewis (Chris Messina) e o filho Patrick formam o estereótipo de felicidade. Porém ela não consegue esquecer e se livrar dos horrores sofridos em sua terra natal durante a Segunda Guerra. Insônia e antidepressivos são constantes. Em um rompante desespero ela sequestra seu vizinho, sem ter a certeza de que realmente foi ele seu torturador no passado.
O filme é tenso. O tempo inteiro existe a dúvida sobre as atitudes dos protagonistas e para qual caminho o roteiro seguirá. Noomi Rapace ficou conhecida no já cult sueco “Os Homens Que Não Amavam As Mulheres” e vem emplacando atuações de tirar o fôlego, sempre intensas e convincentes sendo na maioria das vezes personagens perturbados e de difícil interpretação. Coisa que não acontece com o apático “Lewis”. Sua sintonia acaba acontecendo com seu algoz (e também sueco) Joel Kinnaman – que consegue fazer um papel quase duplo até o desfecho.
Algumas lacunas são observadas no decorrer do longa: se você está acostumado a filmes de investigação ou se ater aos detalhes da produção e continuidade, vai perceber logo. Porém acabam por não terem tanta importância sendo que a trama (ainda que não seja tão atribulada quanto outros do gênero) acaba por prender o espectador até o final. Um ponto forte é a ambientação na América pós-guerra, desde indumentárias, paisagens, diálogos e até gírias e gestos nos transportam a época então. Também os “flashbacks” em preto e branco fazem uma ponte bastante sinuosa, que vai se estreitando com o andar do longa e elucidando boa parte da estrada em seu final. Outro detalhe interessante são as cores vibrantes quando os diálogos se tornam quase um embate psicológico – bela sacada!
No final das contas é um excelente entretenimento. Dependendo da visão e expectativa frente a tela, pode se tornar mais um exemplar dos horrores da guerra e suas consequências até hoje. Ou ainda apenas mais um jogo de informações onde não se tem o resultado ideal – mas proveitoso.
Disponível também no “Amazon Prime”.