Ultimamente os filmes argentinos nos apresentam boas histórias, roteiros, atuações e demais técnicas cinematográficas com bastante conhecimento e interesse na arte que o cinema apresenta. A busca impiedosa por uma produção firme e bem feita não falha em “Neve Negra“, uma produção extremamente tensa e focada nas discussões familiares e segredos que podem guardar. Ainda que com a presença do monstro Ricardo Darin, consegue decolar nas telas somente nos momentos finais, e ainda assim deixa o público esperando um pouco mais. Como de costume. Não que esperar um pouco mais seja ruim, mas a sensação de vazio deprecia o todo.
Salvador (Darin) é culpado desde a adolescência por matar seu irmão em uma caçada pela neve, e vive quase como um ermitão. Quase no meio do nada. Muitos anos depois, sem ter contato com praticamente ninguém, seu irmão Marcos (Leonardo Sbaraglia) aparece juntamente com a esposa grávida, tentando convencer o isolado bronco a vender as terras que possuem, deixadas por uma herança de seu pai. Pois justamente neste cenário rude e branco de neve, as marcas reaparecem deixando transparecer as feridas – e os rostos maquiados pelo tempo.
O pretexto de uma boa história e um roteiro bem afinado sempre renderam bons filmes e, ainda que fossem pobres de produção ficavam marcados pela sua perspicácia escrita. “Neve Negra” é exatamente o contrário: abre a expectativa de reviravoltas, e acaba se tornando interessante justamente pela técnica apurada. Gravar na neve não é nada fácil, uma vez que a cor branca em grande quantidade traz uma dificuldade incrível para as objetivas. Porém o destaque se faz justamente nas tomadas aéreas e que acabam por traduzir muitas vezes a imensidão do vazio dos personagens.
Todo o embate por uma trama fica bastante claro antes do filme ter o seu final revelado por completo. Ainda que a direção de atores, continuidade e a fotografia trabalhem bem e em sincronia com o andamento, mágicas acontecem para que as pontas se unam. Um bom início, uma boa trama em um inverno mal aquecido…