A transposição de uma cultura para outra ainda traz um certo desconforto a quem conhece bem a original. Assim são com remakes, versões e remontagens de clássicos (que na maioria das vezes não deveriaM ser tocados). Não é o caso de “Eduardo e Mônica”, que aparece nos cinemas em uma linguagem simples e cotidiana, trazendo apenas uma versão de um dos casais mais cantarolados do país.
A mão diretor René Sampaio (também responsável pela realização de “Faroeste Caboclo) é leve e doce como uma “Sessão da tarde” e pode incomodar alguns com a falta ousadia na retratação das agruras e desventuras do casal idealizado por Renato Russo. Em breves momentos temos a busca pela inquietação e inserção de fatores e momentos históricos do Brasil dos anos 80 que, cheio de fatos, foram simplesmente exonerados na película.
A força da poesia e da realização visual é aprimorada, mostrando recantos de Brasília sendo explorados a gosto e idealizando locais que a música nos faz buscar a todo o tempo na memória. A sobriedade em momentos menos oportunos e desimportantes, e a explosão colorida chega ao ponto de ser piegas. Mas se tratando de uma livre adaptação, quem se importa?
A escolha de Alice Braga para interpretar uma Mônica introspectiva (e sensata até certo ponto) foi um dos pontos altos e acertos em cheio. A experiência da atriz e sua interpretação acabam se sobressaindo sobre os demais atores que tentam apenas entrar na combustão, mas conseguem interpretar apenas a si mesmos. Alice consegue projetar e convencer o público que uma encarnação dos sonhos da Legião é possível.
Outro adendo importante: aqueles que não viveram ou não participaram ativamente da musicalidade da década oitentista podem não gostar do contexto geral, uma vez que falta ao roteiro uma abrangência maior e mais perspicaz: desde gírias e bordões típicos da época até as extravagâncias das vestimentas foram poupados. Inclusive em um dos pontos altos da produção, onde uma das músicas de Bonnie Tayler é exaltada como hino (e chega a emocionar), poderia ter sido melhor aproveitada. Porém, como existe uma licença poética a ser cumprida, é necessário relevar.
A conclusão de um filme raso e pouco inclusivo não pode ser apenas visto como mero cinema, mas sim como a tentativa de representação de um dos ícones mais conhecidos do rock nacional. Certamente qualquer tentativa de personificação do casal dos sonhos da música brasileira jamais agradará a gregos e troianos, e dificilmente seria aceito por completo. Mas é válido e competente a sua maneira, afinal, quem um dia irá dizer que existe razão para as coisas feitas pelo coração?!