Quando um novo filme do consagrado M. Night Shyamalan é anunciado sempre há uma grande expectativa para saber de qual cartola exatamente sairá o coelho. O bicho poderá vir sombrio, de outro planeta, com superpoderes, um elfo, ou ter dezenas de personalidades diferentes como em “Fragmentado”, uma de suas últimas obras em que realmente pode-se realmente orgulhar. Em “Batem à Porta” o coelho vem comedido e não faz traquinagens, mas vem com um viés diferente apenas do usual.
Uma família sai em férias para uma cabana longe de tudo e de todos, onde uma garota de oito anos e seus pais tem a a então casa invadida por quatro pessoas que exigem que a família faça uma escolha de sacrifício onde evitarão um suposto apocalipse final.
Técnica e obstinação não faltam a Shyamalan: desde a escolha dos atores, o cenário, as referências a outros filmes clássicos não faltam. Lembranças vagas de “A Morte do Demônio” e “O Nevoeiro” não são à toa. O diretor usou lentes dos anos 90 para conseguir uma estética semelhante a época, ainda que o filme se passe em tempos bastante atuais. E obviamente não temos como deixar de observar o tipo de letra usado no início para a apresentação, com os mesmos formatos usados por Tarantino.
Falando em tempos de hoje, o filme toca de forma firme, porém sutil em temas que ainda geram polêmica em pleno século XXI. A relação homoafetiva tendo pais do mesmo sexo formando uma família, a adoção de uma criança de outra nacionalidade e com problema congênito, e ainda para alfinetar de leve, uma demão nos negacionistas de plantão.
O elenco tem seu peso. E a í foi um de seus acertos maiores. Um exemplo bem sucedido é o gigante gentil David Bautista, que atua fora de sua zona de conforto fazendo um papel distante dos brutamontes. E o também Rupert Grint, que ficou conhecido na saga Harry Potter, já havia trabalhado com o diretor na série “Servant”. Porém a escolha tende a valorizar os closes (necessários em espaços pequenos) e atuações mais rápidas.
Ainda que sempre tenhamos a esperança de não vermos mais do mesmo, “Batem à Porta” não carrega nenhum “jump scare” ou “plot twist”. Não pesa a mão no sangue ou violência, mas sim na verborragia. Há o sincretismo filosófico e as meta linguagens. Mas talvez tenha faltado uma pitada de coragem e ousadia para o choque cultural e fatídico sempre aguardado. Um bom divertimento e suspense, mas não muito mais do que isso.