Quando se fala em Guillermo Del Toro, uma das primeiras lembranças que se tem é do seu premiado “O Labirinto do Fauno” onde uma menina tem missões a cumprir em busca de uma felicidade imortal – tarefas estas dadas por um ser mitológico. Não muito longe disso, o diretor traz mais uma de suas pérolas as telas do cinema com “A Forma da Água“, onde não somente seus filmes amadurecem como também os personagens e as intrigas se tornam pouco mais complexas do que as vistas anteriormente. Além de serem mais sutis, permanecem densas e tão pesadas quanto se pode suportar.
A nova obra nos traz Elisa (Sally Hawkins): uma zeladora/faxineira sem voz, que trabalha em um laboratório onde um homem anfíbio que foi descoberto pelos militares americanos e que está sendo mantido em cativeiro para pesquisas. Ela então se apaixona pelo estranho ser e monta um plano para ajudá-lo a escapar das garras tiranas de Strickland (Michael Shannon) que é responsável por ele até então. Tudo isto com a ajuda de seu vizinho e também de sua colega de trabalho (Octavia Spencer).
Apesar dos últimos filmes não terem sido tão abrangedores quanto o primeiro, Del Toro consegue trazer novamente seus elementos fantásticos e fazer de “A Forma da Água” uma divertida e tocante aventura, por vezes infantil, mágica e em certos momentos até erótica. Em épocas de estruturas politicamente corretas, metáforas e eufemismos baratos tentando ajudar roteiros, aqui as figuras de linguagem ficam de lado e são colocadas em seus devidos lugares com sexo (quase) explícito, masturbação soft, sangue, garras, violência e tiros. Mas nada disso se apresenta sem sentido ou casualmente. Tudo normalmente se encaixa como sempre em seu realismo absurdo e inteligível.
Em todo o filme também é clara a intenção de retratar as minorias em suas formas mais simples e diretas, desde os insultos que sofrem as personagens femininas: seja por suas condições de classe operária, seja pelo simples fato de serem mulheres. As estruturas dos atores foram bem trabalhadas e em cada um dos personagens é factível a extração de um conteúdo a mais, seja nos militares russos da guerra fria que buscam aniquilar as descobertas inimigas, seja no colega de quarto (Richard Jenkins) que tenta se recolocar profissionalmente e ao mesmo tempo em que deve aceitar que a tecnologia bate a sua porta, e que também em meio a todos problemas de trabalho ainda busca a felicidade homossexual em tempos severos e de tolerância zero.